Por que as pessoas fazem jogos de desinteresse?

Os chamados jogos de desinteresse são estratégias que algumas pessoas adotam para fingir que não estão interessadas em alguém, ou que estão menos interessadas do que realmente estão. Essas estratégias podem ter várias causas e consequências, podendo resultar em confusão, frustração, angústia e desgaste.

Para a psicanálise, os jogos de desinteresse podem ser vistos como um modo de expressão do que é denominado como formação reativa. Esse conceito foi descrito por Sigmund Freud (2011) e diz respeito a um mecanismo de defesa que consiste em manifestar diametralmente o oposto do que se sente/deseja. Isso pode ocorrer quando o ego se sente ameaçado ou frustrado por alguma situação e busca evitar ou distorcer a realidade.

Um exemplo disso é quando uma pessoa que se sente atraída por outra finge que não se importa ou que até a rejeita, para negar o seu sentimento e evitar o possível risco de ser rejeitada. Essa atitude pode ser consciente ou inconsciente e pode ter origem em conflitos entre o id, o ego e o superego.

Outra forma de entender os jogos de desinteresse é a partir da teoria sobre a posição esquizoparanoide. Postulado pela psicanalista Melanie Klein (1975), esse conceito se refere a um estágio do desenvolvimento psíquico infantil no qual a criança se relaciona com objetos de maneira fragmentada, tendo dificuldade para integrar os aspectos positivos e negativos da realidade.

Nesse sentido, uma pessoa que faz jogos de desinteresse pode estar projetando seus próprios aspectos negativos no outro ou temendo perder algum “objeto” idealizado. Com isso, essa pessoa pode acabar enfrentando dificuldades para estabelecer relações maduras e estáveis e pode oscilar entre o amor e o ódio, a idealização e a depreciação.

Os jogos de desinteresse também podem estar relacionados ao conceito de falso self, proposto pelo psicanalista Donald Woods Winnicott. Segundo Winnicott (1983), o falso self ocorre quando uma criança percebe que precisa se conformar às expectativas dos outros, especialmente dos pais/cuidadores, para garantir aceitação e cuidado.

Em outras palavras, uma pessoa que faz jogos de desinteresse pode estar escondendo o seu verdadeiro self por medo de se expor ou de se envolver emocionalmente. Dessa forma, o falso self estaria protegendo o verdadeiro self de ser invadido ou aniquilado pelo outro. Em contrapartida, toda essa dinâmica pode prejudicar o desenvolvimento da espontaneidade e da criatividade do sujeito.


FREUD, S. Além do princípio do prazer. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

KLEIN, M. Notas sobre alguns mecanismos esquizóides. Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Trabalho original publicado em 1946).

WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.


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